Agronegócio

06/12/2019 06:16

Câmbio estimula venda antecipada de açúcar

A arrancada do dólar em relação ao real nas últimas duas semanas, batendo recordes sucessivos, estimulou algumas usinas de açúcar a travarem os preços de exportação da próxima safra (2020/21), que começa em abril. Embora os volumes de fixação ainda sejam modestos na comparação histórica, os negócios estão se aproximando de preços de açúcar em reais mais próximos das médias históricas.

Entre os clientes da consultoria FG/A, sediada em Ribeirão Preto, os negócios travados nas últimas duas semanas com base em contratos na bolsa de Nova York para entrega no fim da próxima temporada nacional chegaram a se aproximar dos R$ 1.400 a tonelada. Entre outubro e novembro, os negócios que foram travados oscilaram entre R$ 1.100 e R$ 1.220 a tonelada. Os preços dos negócios mais recentes já estão superando o preço médio do açúcar em reais em 21 anos, que é de R$ 1.307 a tonelada.

Conforme levantamento da consultoria INTL FCStone, o preço médio de fixação de açúcar para entregas atreladas aos contratos do demerara na bolsa de Nova York para maio, julho e outubro de 2020 ficaram entre R$ 1.250 e R$ 1.270 a tonelada apenas nos negócios travados nas últimas semanas. O valor médio das fixações para a próxima safra estavam, até então, em R$ 1.200 por tonelada.

Bruno Lima, gerente da área de açúcar da consultoria, afirmou que os preços obtidos nas últimas duas semanas equivalem a R$ 2,26 o litro do etanol hidratado em Paulínia, acima do preço médio do biocombustível obtido nesta safra (R$ 2,13 o litro). “Travar o açúcar agora já dá uma remuneração melhor que a do etanol desta safra, que já foi uma safra boa para o etanol”, disse ele.

Os preços de fixação já vinham melhorando desde outubro, no início da safra global 2019/20, para a qual se prevê déficit de produção. Até 31 de outubro, o preço médio de fixação para a safra 2020/21 estava em R$ 1.209 a tonelada, acima dos R$ 1.170 a tonelada um ano atrás, segundo estimativa da consultoria Archer Consulting.

A valorização dos negócios para as usinas brasileiras também contou com a ajuda do movimento dos fundos especulativos. “Geralmente, o preço na bolsa de Nova York tende a cair com a alta do dólar. Mas, nas últimas duas semanas, os fundos diminuíram suas posições vendidas, e o preço do açúcar se manteve em Nova York”, afirmou Juliano Merlotto, sócio da FG/A.

Os volumes fixados ainda são modestos em relação às médias históricas porque ainda se espera uma quantidade reduzida de embarques para o próximo ciclo. No levantamento da Archer Consulting com usinas de todo o país, 3,258 milhões de toneladas de açúcar para embarque em 2020/21 haviam sido hedgeadas até 31 de outubro, ante 5,499 milhões de toneladas um ano antes - 40% a menos.

O volume, porém, cresceu em novembro. A Usina Alta Mogiana, em São Joaquim da Barra (SP), por exemplo, saltou de cerca de 10% de fixação antecipada no início de novembro para cerca de 30% no fim do mês, segundo um executivo da empresa. Nos cálculos da INTL FCStone, o percentual da fixação das exportações de 2020/21 do Centro-Sul saiu de 28% para 35% no mês.

Já houve safras, porém, com percentuais mais avançados de fixação antecipada para essa época. A diferença se dá porque o setor continua se preparando para mais uma safra bastante alcooleira. “Não vem uma enxurrada de fixação porque a gasolina também está subindo”, avaliou Willian Hernandes, sócio da FG/A.

Enquanto o dólar subiu 5,73% em novembro, o preço médio da gasolina A, vendido pela Petrobras nas refinarias, acumulou alta de 6,86% no mês. A alta do combustível fóssil aumenta o espaço para a elevação dos preços do etanol hidratado no mercado doméstico.

A diferença, para as usinas brasileiras, entre a remuneração do etanol hidratado no mercado físico e do açúcar para exportação continua contando a favor do biocombustível. Na última semana, a diferença estava em torno de 100 pontos equivalentes ao preço do açúcar, ou R$ 0,25 por litro de etanol hidratado.


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